João Carlos Espada
Expresso :: 2008.04.05
As pessoas interrogam-se sobre as razões que presidem ao aumento da indisciplina nas nossas escolas. Os esquerdistas de serviço correm a dizer que esse é um problema europeu e não apenas nacional. E é verdade: só que, ao contrário dos nossos esquerdistas de serviço, vários países europeus - como a Inglaterra e a Suécia - estão a enfrentar o problema.
O problema é simples e foi primeiro detectado na América (se tenho permissão para citar esse alvo de todas as críticas): nós estamos a utilizar na educação ocidental um sistema de tipo soviético que não usamos nas outras esferas de actividade (com a excepção da saúde). Temos um quase monopólio estatal de educação.
Resultado? Burocracias governamentais gigantescas tendem a impor uma ortodoxia esquerdista, secularista e laxista que vem minando dramaticamente os padrões de educação - não só dos filhos deles, o que não seria da minha conta, mas também dos nossos filhos e dos nossos netos. É uma verdadeira lavagem ao cérebro.
Essa ortodoxia esquerdista vira o mundo de pernas para o ar. Ao contrário dela, por exemplo, nós não deveríamos recear o termo Ocidente. E não deveríamos aceitar que a democracia fosse apresentada como uma inovação esquerdista criada pela Revolução Francesa ou por um dos seus muitos sucedâneos, como o Maio de 68. Como apontou Karl Popper, cuja autobiografia foi finalmente publicada entre nós, a democracia ocidental é produto de uma longa conversação - entre gerações, e entre fé e razão - com raízes nas tradições greco-romana e judaico-cristã. A Magna Carta de 1215, por exemplo, contém os princípios essenciais que presidem aos modernos regimes constitucionais e democráticos.
Isto tem muitas consequências. Uma delas é que a liberdade e a democracia são indissociáveis de um sentido pessoal de dever - que os subscritores da Magna Carta conheciam, mas que era ignorado pelos agitadores da Revolução Francesa. É um sentido de dever que não depende do capricho e que limita o capricho. Karl Popper, entre muitos outros, chamou a isto o espírito de «gentlemanship» e definiu-o simplesmente: um «gentleman» é aquele que não se toma a si próprio demasiado a sério, mas que está pronto a tomar muito a sério os seus deveres, sobretudos quando os outros só falam dos seus direitos. Winston Churchill foi, no século XX, um exemplo primeiro deste sentido de dever.
De onde vem este sentido, não primariamente político, de dever? A busca de uma resposta fica impossibilitada se excluirmos da conversação as vozes dos nossos antepassados, designadamente as vozes greco-romanas e as vozes judaico-cristãs. Mas é esta exclusão que está diariamente a acontecer no nosso sistema estatal de educação.
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